Este é o segundo artigo (de uma série de doze) sobre a Teoria do Ginocentrismo.
Clique aqui para ler o 1º artigo: Olhando Fixamente para fora do Abismo
Por Adam Kostakis
Leitura N° 2
"Não fui feito com o seu molde. Não leio a mesma história repetida" — Pennywise
Meus leitores devem compreender que as preocupações abordadas pela Teoria do Ginocentrismo não estão limitadas ao feminismo. O feminismo é ainda bastante novo em cena, enquanto que o Ginocentrismo tem estado ao redor do mundo desde que a História foi registrada. O Movimento dos Direitos dos Homens visa abordar problemas relacionados com o feminismo, mas não limita sua atenção para estes problemas. Muitos destes problemas já existiam antes do final do século 19, quando surgiu o feminismo propriamente dito, embora eles tenham sido ampliados e agravados desde então. O feminismo é apenas a embalagem moderna do Ginocentrismo, um produto antigo, tornado possível na sua forma atual pelas amplas medidas de bem-estar público do período pós-guerra.
Apesar de sua radical retórica, o conteúdo do feminismo, ou poderíamos dizer, a sua essência, é notavelmente tradicional; tão tradicional, de fato, que suas idéias principais são simplesmente tomadas como certas, como dogmas inquestionáveis e indiscutíveis, desfrutando uniforme parecer favorável em todo o espectro político. O feminismo é distinguível somente porque tem uma certa idéia tradicional — a deferência de homens para mulheres — a um extremo insustentável. Extremismo político, um produto da modernidade, deverá adequadamente pôr fim à própria idéia tradicional, isto é, na consequência de seu assombro, todos cantam, todos dançam o ato final.
Permita-me esclarecer. A idéia tradicional em discussão é o sacrifício masculino para o benefício das mulheres, a qual chamamos de Ginocentrismo. Esta é a norma histórica, e é assim que o mundo sempre funcionou, muito antes de qualquer coisa chamada “feminismo” ter se dado a conhecer. Há uma continuidade imensa entre o código de classe cavalheiresca, a qual surgiu na Idade Média, e o feminismo moderno, por exemplo. Que os dois são distinguíveis está suficientemente claro, mas o segundo é simplesmente uma extensão progressiva do primeiro ao longo de vários séculos, tendo conservado a sua essência durante um longo período de transição. Pode-se dizer que eles são a mesma entidade, a qual hoje existe em uma forma mais madura — certamente, não estamos lidando com duas criaturas distintas. Pegue qualquer um dos grandes impérios que varreram o globo — o Romano, o Otomano, o Espanhol, o Britânico — e você encontrará o Ginocentrismo como a ordem do dia. Tantas grandiosas iniciativas geopolíticas, tantos testamentos históricos para o triunfo do homem sobre a terra e o mar, foram construídos e conservados por homens perfeitamente acostumados à ideia de morrer em prol de suas mulheres. É uma idéia que tem sobrevivido a quase todas as outras, e perdura até hoje no nosso Império Americano. Que os homens devem se sacrificar totalmente — sua própria essência, o seu ser e sua identidade, para salvar as mulheres que eles nem sequer conhecem — isso está bem resumido naquela frase popular, “mulheres e crianças, primeiro”.
(E se você prestar especial atenção, você irá notar que a frase nunca é pronunciada como “crianças e mulheres, primeiro”. Só de pensar nisso é um absurdo! Isto porque o que realmente a frase quer dizer é “as mulheres em primeiro lugar, crianças em segundo.”)
A resistência desses códigos social e de classe não deve nada ao controle totalitário. Mesmo quando as manobras de revoltas sangrentas contra os monarcas tirânicos desbancavam as elites, os homens que aspiravam ao poder não mexiam no código Ginocêntrico. O auto-sacrifício dos homens é uma constante sexual que sobreviveu a todas as mudanças de regime. O Ginocentrismo, ao que parece, não deixou os homens completamente sem benefício; em tempos de paz, um homem podia ficar razoavelmente assegurado de que teria uma estrutura familiar estável, e seguro de sua própria paternidade para as crianças que ele ajudou a criar. Apesar de tudo disso, o que era oferecido aos homens era essencialmente compensatório. Durante a maior parte da história, os homens, aparentemente, consideraram esta compensação uma coisa bastante razoável — ou talvez, o Ginocentrismo estivesse tão profundamente arraigado que eles simplesmente não refletiam nada sobre isso. Mediante suas ações, afirmaram (e renovaram) o Ginocentrismo, e se fizeram pela honra do nome, pela nobreza, pelo cavalheirismo, ou pelo feminismo, o que se vê é que a essência do Ginocentrismo tem permanecido inalterada. Continua a ser um dever peculiarmente masculino ajudar as mulheres a ir até os botes salva-vidas, enquanto os próprios homens enfrentam uma morte certa e gelada.
Só agora, com os acontecimentos políticos e sociais do século XX que levaram a uma ruptura entre os sexos, que o tipo de pensamento encontrado neste blog pôde emergir. A modernidade tardia nos fornece novos recursos conceituais — novas maneiras de pensar, que podem ser reconstituídos de volta ao Iluminismo dos séculos XVII e XVIII. Fora deste caldeirão intelectual, um dia saiu rastejando da toca o feminismo, uma mistura vingativa de Ginocentrismo clássico, de fetichização de vítima, de utopismo radical e de pressupostos liberais.
Seria excessiva simplificação dizer que as feministas se propuseram a ter só ganhos. Pelo contrário, elas fizeram exigências para ambos, ganhos e perdas. Elas queriam ganhar os direitos dos homens, mas perder as suas tradicionais responsabilidades do sexo feminino. Isso, aparentemente, seria colocar as mulheres em uma posição social igual a dos homens. Era um argumento enraizado nas tendências liberais de individualismo, igualdade cívica e autodefinição. Em retórica, senão na realidade, o feminismo afirmou os seus pontos de concordância com os aspectos mais admiráveis do liberalismo tradicional: a igualdade perante a lei, a abnegação do governo arbitrário, e assim por diante. A extensão de direitos para todas as mulheres apareceu, logicamente, para ser a fase sucessiva de libertação humana na sequência da extensão de direitos a todos os homens.
Supunha-se — mais um engano nosso — que uma vez concedida à igualdade de direitos, as mulheres iriam assumir voluntariamente as respectivas responsabilidades a que os homens sempre cumpriram. Isto não aconteceu. As feministas ficaram felizes em ganhar direitos dos homens, e perder as responsabilidades das mulheres, mas elas ficaram horrorizadas com a sugestão de que elas deveriam assumir as responsabilidades dos homens como um corolário. Em vez de homens e mulheres partilharem os fardos do mundo, nós tínhamos a Campanha da Pena Branca:
Esta campanha teve início no início da Primeira Guerra Mundial, na Grã-Bretanha, onde as mulheres foram incentivadas a colocar penas brancas sobre os homens jovens que não estavam com uniforme militar. A esperança era que esta marca de covardia fosse constrangê-los a "cumprir sua parte" na guerra. A prática logo se espalhou para o Canadá, onde mulheres patriotas, em resposta ao declínio nos números de voluntários para o recrutamento, organizaram comitês para emitir penas brancas aos homens em roupas civis e denunciar publicamente os “preguiçosos” e “mandriões”.
E certamente vale a pena ressaltar que muitas destas mulheres eram sufragistas, e assim, mesmo enquanto faziam campanha pela igualdade de direitos com os homens, elas usaram o constrangimento como um instrumento para garantir que os homens, e somente homens, cumprissem as suas obrigações tradicionalmente masculinas. Particularmente, o dever de dar as suas próprias vidas, porque eles eram homens, em prol das mulheres. Sejam quais forem as desvantagens que as mulheres possam ter enfrentado naquele tempo, não há certamente maior coerção do que a morte.
Muita coisa mudou desde a Primeira Guerra Mundial, e o projeto feminista para relaxar e esquivar as mulheres de responsabilidades, enquanto estendeu a permissão para elas agirem do modo que bem entendessem, encontrou enorme sucesso. E é justamente este estado de coisas que são suscitadas certas perguntas, possibilitadas pelos recursos conceituais que herdamos do Iluminismo: e se um homem não quiser viver assim? Por que razão os homens devem continuar a cumprir ou desempenhar suas obrigações tradicionais, quando as mulheres não correspondem as deles, e nem mesmo vão adotar as responsabilidades correspondentes aos seus direitos no momento? Surgem as perguntas: os homens estavam errados, todo esse tempo, a se sacrificar pelo bem das mulheres? Devemos, de fato, não ter obrigações de qualquer natureza com as mulheres?
A razão pela qual o Movimento dos Direitos dos Homens desperta tanta hostilidade, tanto da Esquerda quanto da Direita, é porque é a primeira tentativa na história de um sexo tentar abdicar de seu papel tradicional. O feminismo não é assim; ele é o fortalecimento do poder que as mulheres já detinham. Hoje, o Movimento dos Direitos dos Homens vai muito além de simples acusações dos delitos feministas. Seus adeptos trabalham na análise histórica e em crítica social, e, com a vantagem de dois séculos e meio de imaginação e de inovação decorrente do Iluminismo, pôde facilmente conceber um mundo em que os homens, pela primeira vez na história, não são obrigados a se sacrificar pelas mulheres.
Sem dúvida, o futuro é este, e é uma reação contrária inevitável — assim, uma consequência involuntária — do feminismo propriamente dito. Em tempos passados, quando os homens podiam reivindicar uma compensação para seu auto-sacrifício, eles aceitaram que isso era simplesmente o caminho do mundo. Na ausência de compensação, e com as pressões sendo impostas cada vez mais de forma rigorosa aos homens em todas as esferas da vida, eles são provocados a questionar o novo poder arbitrário, e a formular seu próprio projeto de libertação como resposta.
Minha afirmação feita anteriormente — de que o extremismo político, o produto da modernidade, deve pôr fim à ideia tradicional — já deve estar clara. O feminismo, que é a forma extrema de Ginocentrismo, deve pôr fim completamente ao Ginocentrismo através da reação que ele gera. Estamos há cinquenta anos dentro de um tremendo ato final; uma grandiosa apresentação orquestral, uma exibição teatral fazendo uso sem precedentes de som e luz para confundir e lançar ilusão. Mas se todo o mundo é realmente um palco, então todos os homens e mulheres são atores — com papéis que nós próprios podemos escolher, agora livres para deixar de lado os roteiros que lhes foram entregues e criar uma nova história no lugar da antiga.
E quando a cortina finalmente cair, eu acredito que não haverá bis.
Adam
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KOSTAKIS, Adam. A Mesma História Repetida [The Same Old Story] [em linha]. Tradução de Charlton Heslich Hauer. [s.l.]: Gynocentrism Theory, 2011. Disponível em: <http://sexoprivilegiado.blogspot.com.br/2012/04/mesma-repetida-historia.html>. Acesso em: 21 jan. 2015.
Atualizada e revisada em: 21 jan. 2015.
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