Mais um notável artigo sobre a Teoria do Ginocentrismo.
Artigos anteriores desta Teoria:
Leitura Nº 1: Olhando Fixamente para fora do Abismo
Leitura Nº 2: A Mesma História Repetida
Leitura Nº 3: Refutando o Apelo ao Dicionário
Leitura Nº 4: "Pig Latin"¹ – Brincando com as palavras
Leitura Nº 5: Anatomia de uma Ideologia da Vitimização
Leitura Nº 6: Vinho Velho, Garrafas Novas
Leitura Nº 7: O Pessoal em Contraste ao Político
Leitura Nº 8: Perseguindo Arco-íris
Por
Adam Kostakis
Leitura N º 9
“Não importa se Crítias ou Sócrates é a pessoa refutada. Concentre-se apenas no argumento em si, e pondere, afinal, qual será o destino dele, caso seja examinado.” — Sócrates de Atenas
É necessário, neste momento, deixar de lado o fio da meada que eu vinha construindo, e fazer um desvio no extenso deserto da lógica feminista. A frase lógica feminista vai atingir a maioria dos meus leitores como um contra-senso — senão um oxímoro! — Então deixe-me tranquilizá-los sobre o que eu realmente quero dizer com tentativa de lógica feminista. E não há nada de lógico nisso, eu lhe asseguro.
Em primeiro lugar, por que o uso da lógica é tão ameaçador para as feministas? Sabemos, seguramente, que ela é — com algumas feministas chegando ao ponto de afirmar que a lógica não é outra coisa senão uma ferramenta do patriarcado. Naturalmente, isso é um absurdo. O argumento lógico é, por definição, um conjunto de inferências válidas — por isso, não é possível argumentar contra a lógica. Dito de outra forma, você não pode argumentar contra o raciocínio [lógico], porque a própria tentativa de fazer isso envolve o(a) (tentativa do) uso da razão. A única maneira de atacar a lógica sem usar (ou tentar usar) a lógica seria a de atacá-la mais aleatoriamente — isto é, sem o uso da implicação lógica. Os pontos argumentativos que você fizesse, em ataque à lógica, não deveriam ter nenhuma relação uns com os outros. Você não poderia dizer, por exemplo:
Os homens usam a lógica para derrotar as mulheres na argumentação, portanto,
a lógica é uma ferramenta do patriarcado
porque o uso do “portanto” indica uma conseqüência lógica, isto é, indica implicação, a qual é uma questão de lógica! Isso deixa a feminista com duas opções desfavoráveis: ela pode afirmar que a lógica é uma ferramenta do patriarcado, sem referência a premissas, evidências, exemplos, definições, e assim por diante — sem nenhuma referência, na verdade, à realidade; ou ela pode aceitar que o seu próprio argumento, porque este tenta ligar duas proposições juntas em uma base lógica, é em si uma ferramenta do patriarcado — assim ela também estaria defendendo o argumento!
Assim, a resposta apropriada para o argumento feminista de que “a lógica não pode ser confiável porque é uma ferramenta do patriarcado”, é dizer: “Ei! e você também — como uma patriarca, eu aprecio que você esteja fazendo o meu trabalho para mim!”
Mas novamente, por que a lógica é tão ameaçadora às feministas? Será que as feministas estão simplesmente equivocadas sobre a natureza da lógica? Isso é duvidoso. Depois de ter visto as feministas derrotadas pela lógica muitas vezes, tenho a certeza de que elas temem-na, porque as suas crenças não podem resistir a ela. Como qualquer seita, o feminismo não permite que seus membros investiguem a verdade, nem tolera a discussão livre e aberta de suas crenças fundamentais. Ainda assim, nada disso faz a mínima diferença para nós — como não-feministas, não há nenhuma autoridade humana obrigando-nos a manter nossos pensamentos ou discursos no âmbito do feminismo.
Sim, as feministas temem a lógica porque ela contradiz outras formas de “conhecer” o mundo — que digam a você o que pensar, por exemplo. Elas também temem que a lógica lance o descrédito sobre “verdades” ideológicas. As feministas querem que você veja o mundo como elas dizem que você deveria vê-lo — elas certamente não querem que você chegue a suas próprias conclusões! Sobretudo a conclusões críticas à ortodoxia feminista, derivadas, por exemplo, do processo de fazer perguntas e receber respostas insatisfatórias. E, no entanto, essa é precisamente a consequência que as feministas garantem, quando suas preocupações mais críticas e as conseqüências de uma discussão aberta levam-nas a reagir, de forma intempestiva, com táticas de constrangimento.
O que pensaria um neutro observador perspicaz quando ouvisse uma pergunta razoável ser respondida com um ataque contra o caráter do interlocutor? Será que isto vai inspirá-lo a adotar todos os princípios do questionado sistema de crenças? É mais provável que ele se sinta intimidado a ser submisso pela tática de constrangimento usada contra o provocador, ou se sinta ofendido por procuração pela maneira evasiva e insultante da ideóloga?
Ideólogos não tendem a fazer reflexões como essas. Não é de se admirar, então, que a palavra “ideologia” nasceu como um termo de abuso. Não era assim, até Marx e Engels escrever A Ideologia Alemã, e então a expressão assumiu a caracterização que associamos hoje com as políticas de identidade. Sua ideologia, afirmavam eles, é o produto de sua posição social — isto é, ou se é um proletário ou um burguês. O proletariado socialista são os donos da ideologia que reflete a verdade, enquanto a burguesia capitalista possui apenas uma “falsa consciência”. Nunca é explicado como se sabe que as coisas são dessa maneira e não de outra — isto é, por que a burguesia não pode possuir a verdadeira ideologia, e o proletariado estar sujeito à falsa consciência? Essa pergunta não precisa ser respondida, porque o marxismo é um sistema fechado de pensamento. É como um homem que não está no chão, mas de alguma forma, sobre seus próprios pés; qualquer parte do marxismo se sustenta sobre as outras partes da teoria, e não depende dos caprichos do mundo experiencial como apoio. Em outras palavras, o que acontece no mundo real não importa — o marxismo é autoconfirmante. A verdade que fundamenta suas alegações está localizada
dentro da teoria, totalmente independente de qualquer evidência em contrário que pode ser obtida a partir das experiências reais de pessoas reais.
Ele é muito parecido com o feminismo, logo — de existência abstrata e anticontextual, decidindo sobre a história antes que os fatos sejam conhecidos. O Feminismo, para as feministas, não necessita de justificação fora de si mesmo. É impenetrável pelo argumento externo, e, portanto, irrefutável — porque é inerentemente irracional. Ou seja, ele não pode ser chamado à razão. É uma perda de tempo tentar sensibilizar as feministas, e cada MRA1 logo descobrirá que será mais fácil ele espremer sangue de uma pedra. O único discurso que fará com que as feministas sentem-se e mudem suas maneiras é o discurso de poder, e este é um discurso que deve ser sustentado por ação. Antifeministas devem se sentir à vontade com a idéia de exercerem o poder sobre as feministas, pelo menos o suficiente para marginalizá-las na irrelevância. Este é o fim do jogo. Criação de massa crítica é o modo como atingiremos esse objetivo, mas damos um passo para trás cada vez que condescendemos com as feministas em seus sofismas.
Tomemos, por exemplo, o sofisma feminista de que estamos “presos” em uma perspectiva determinada pelo sexo ao qual pertencemos. Qualquer argumento contrafeminista lançado por um homem, não importa quão precisas sejam suas observações, não importa quão suas afirmações sejam evidências, pode ser descartado, alegando-se que foi feito por um homem. O argumento é o seguinte: “Você só está dizendo isso porque você é um homem. Se você não fosse um homem, você não teria uma perspectiva masculina, e assim você não estaria dizendo isso.” A implicação é a de que uma perspectiva masculina é inerentemente errada — que o homem, em virtude do fato de ser um homem, é incapaz de perceber a verdade. Como você pode ver, esse é verdadeiramente o mesmo artifício da “falsa consciência” praticado por Marx e Engels e seus seguidores — a feminista não explicou como ou porque razão é que a perspectiva de uma mulher, em virtude de ela ser uma mulher, é, necessariamente, a única que reflete a verdade.
O artifício da “falsa consciência” é, em última análise, uma evasiva. Em um movimento desonroso, a feminista tem evitado o argumento em si e atacado o interlocutor — “você não pode estar certo, porque você é homem.” Para a feminista, isso é suficiente. Ela considera o assunto encerrado, e segue em frente. Pelo mesmo motivo não revelado pelo qual Marx sabia que o proletariado era senhor da verdade, a feminista “sabe” (ou seja, está absolutamente convicta) que a sua própria ideologia possui a verdade. Mas esse raciocínio não revelado, qualquer que seja ele, não funciona em sentido inverso. A feminista está confiante o suficiente de que um contra-argumento, usado com a mesma tática — “você não estaria dizendo isso se você não fosse uma mulher” — é inaplicável e impossível. A implicação é a de que as mulheres feministas vêem o mundo objetivamente, enquanto que apenas os homens estão “presos” a uma perspectiva privilegiada e não podem ver a maneira como as coisas realmente são. Um ataque contra a perspectiva de um homem, pelo fato de ser uma perspectiva masculina — até mesmo a identificação de uma perspectiva como peculiarmente “masculina” — é nada menos que uma declaração de supremacia feminina.
Quanto às mulheres não-feministas, elas também estariam sendo oprimidas pela “falsa consciência”. Veja você, quando as mulheres usam suas próprias mentes para decidir as coisas por si mesmas, é dito que elas estão sendo manipuladas pelo patriarcado! Mas quando elas param de pensar por si mesmas, e acatam a consciência feminista, sem questionamento, nesse momento é que suas mentes estariam sendo “libertadas!” Percebe como isso funciona?
Agora, eu odeio estragar a diversão delas por ser um homem que diz coisas que não diria se não fosse um homem, mas há algo que não faz sentido em tudo isso. O que as feministas estão tentando transmitir é uma espécie de determinismo sexual. Ou seja, a noção que elas estão tentando propagar é aquela que afirma que as nossas ações e comportamentos são determinados de acordo com o nosso sexo, e que não temos liberdade de escolha no assunto. De que nós somos robôs morais, condicionados desde o nascimento a ver o mundo de uma maneira particular, a partir do qual não podemos desviar.
Essa teoria só teria sentido se ela pudesse nos dizer como os homens e as mulheres agem ou pensam. No entanto, tanto homens quanto mulheres são muito menos previsíveis do que as estereotipadoras do mundo gostariam que eles fossem. Há, por exemplo, feministas que são homens, MRAs que são mulheres, e pessoas de ambos os sexos que contrariam todas as tendências que possamos imaginar. O determinismo sexual feminista, então, tornou-se uma teoria inútil; se há alguma verdade nela, está limitada aos aspectos do comportamento humano que não podem ser identificados. Ela foi reduzida à tautologia: nós sempre vamos fazer as coisas que sempre vamos fazer!
Não é necessário afirmarmos que homens e mulheres não são duas classes opostas e internamente homogêneas de pessoas. Feministas gostariam muito que fossem. De fato, o feminismo se apóia nessa percepção defeituosa. A idéia de que homens e mulheres devem ser opostos um ao outro é uma construção feminista, e qualquer desvio a isso é uma ameaça a toda a iniciativa feminista — daí o imperativo de destruição familiar. É também por isso que os ataques mais venenosos são reservados aos aliados feministas do sexo masculino. Esse pequeno número de homens que exerce a mais rigorosa autodisciplina está sob fogo maior por não ser feminista o suficiente de acordo com a ortodoxia feminista. Isso acontece porque todo homem que é pró-feminino no mínimo é uma pedra no sapato do feminismo tanto quanto a mais declarada mulher antifeminista (talvez mais ainda: no caso dos homens feministas, não existe argumento equivalente ao da “falsa consciência” usado para repudiar mulheres antifeministas). Deve ser negada a idéia de que os homens feministas possam ser considerados feministas o suficiente! A ilusão de que os homens são “o inimigo” deve ser mantida — e isso significa repudiar as intenções amigáveis de aliados masculinos. Ao declararem-se feministas, os homens não estão em conformidade com o determinismo sexual feminista, contrariando, assim, a teoria feminista, e ameaçando o progresso de todo o movimento. Mas não é tão fácil pintá-los como selvagens primitivos, e isso se deve em grande parte a seus próprios esforços em se tornarem receptivos — que é precisamente por isso que eles recebem tal mordaz desprezo.
Retomando o assunto: o Marxismo e o feminismo têm mais coisas em comum do que o Apelo à Falsa Consciência. Ambos se encaixam em um determinado modelo sobre o qual podemos mapear qualquer ideologia radical moderna. Novamente, são os desdobramentos na linguagem e no pensamento que permitem configurações teóricas possibilitando movimentos sociais como o feminismo. O socialismo só foi possível uma vez que o Estado e a economia foram distinguidos conceitualmente — nos tempos feudais, a distinção entre os dois não era perceptível, tornando discutível a possibilidade de um sistema socialista ser idealizado. Foi em resposta à ascensão do capitalismo, com tudo o que isso implicou — o pensamento iluminista, o individualismo econômico, mercados livres, o trabalho livre, um fim aos impostos agrícolas, a formação das classes empresarial e trabalhadora — que o socialismo Utópico e (mais tarde) o Marxismo tornaram-se possíveis no reino da imaginação.
Da mesma forma, o nacionalismo — em sua forma moderna, como uma ideologia — só se tornou possível uma vez que a sociedade e a cultura foram distinguidas em pensamento e linguagem. Nossa questão aqui é: o que tinha de ser distinguido antes do feminismo se tornar uma possibilidade?
Esta é uma pergunta que levaria uma grande quantidade de espaço para responder — mais espaço do que eu tenho disponível aqui. Basta dizer que a escalada de liberdades sendo concedidas aos homens resultou em uma divergência de expectativas entre homens e mulheres. Razoavelmente suficiente, podemos pensar, um pequeno número de mulheres começou a questionar por que razão a noção iluminista de liberdade individual se estendia somente aos homens. No entanto, o que muitas vezes passa despercebido é que essas mulheres começaram a partir de uma posição de força — elas já eram as beneficiárias de códigos Ginocêntricos culturais que as colocavam acima dos homens, sobre pedestais. Ao longo das décadas seguintes, os homens tropeçaram em si mesmos ao entregar tudo o que as mulheres exigiam. É provável que a maioria deles sinceramente acreditava que a liberdade individual deveria ser estendida para as mulheres assim como para os homens. Mas o próprio fato de que o Ginocentrismo já estava em pleno vigor indicava que a supremacia feminina seria a única conseqüência possível do feminismo. A “igualdade” que as feministas buscavam era uma “igualdade” para fazer todas as coisas que os homens podiam fazer, e manter suas tradicionais vantagens sobre os homens, acumuladas ao longo de séculos de Ginocentrismo. As beneficiárias de vantagens adicionais não são, obviamente, iguais, de maneira nenhuma, mas, privilegiadas em detrimento de todos os outros. Esta sempre foi a intenção.
Apesar das eventuais alegações das feministas de que estão renunciando a todas as formas de pensamento masculino e criando um novo, o feminismo se encaixa perfeitamente com outras ideologias radicais que o precederam (e que foram, obviamente, idealizadas por homens). Tendo como base formas de associação como aquilo mais evidente sobre modernas ideologias radicais — os marxistas opõem o proletariado à burguesia, os nacionalistas opõem a sua própria cultura ou raça a uma sociedade culturalmente ou racialmente diversificada, e as feministas opõem as mulheres aos homens. As relações-chave, utilizadas pelos ideólogos como explicações totais para todos os fenômenos humanos, correspondem às formas de associação acima salientadas. Para Marx, a principal relação é econômica — o controle dos trabalhadores pelos capitalistas é uma relação econômica, e tudo o mais (política, religião, cultura) seria mera “superestrutura” sobre esta “base”. A superestrutura pode mudar, mas nada de fundamental alterar-se-á a menos que a relação econômica das classes seja reconfigurada. Da mesma forma, para os nacionalistas, a relação fundamental é cultural (ou racial, se os dois são diferenciados). Esta é a “base” sobre a qual tudo é construído. As alterações nas estruturas superficiais na parte superior da “base” (por exemplo, modificações em instituições políticas e sociais) são irrelevantes; a única mudança fundamental só aconteceria via transformações na demografia cultural e/ou racial.
Encontramos o mesmo padrão no feminismo. Opondo mulheres aos homens, a relação fundamental para as feministas é, naturalmente, sexual. É a relação entre homens e mulheres que determinaria todo o resto (política, economia, cultura, religião, e assim por diante). Os elementos da superestrutura podem muito bem mudar, mas até que a dominação das mulheres pelos homens seja esmagada no nível básico, nada de significativo seria alcançado.
É essa crença que em última análise explica a tentativa lógica feminista. Suas tentativas de argumentação racional são obscurecidas por uma crença na culpa coletiva — de que todos os problemas ou inconvenientes enfrentados pelas mulheres resultam dessa relação-base (a dominação das mulheres pelos homens), de modo que, enquanto os problemas ou inconvenientes permanecerem, seguramente os homens (coletivamente) estariam dominando as mulheres (coletivamente). Não importa se um homem em particular é inocente — ele ainda é “o inimigo”, como as feministas estão mais do que dispostas a admitir (ver, em inglês: O Redstockings Manifesto). Também não importa se uma mulher, em particular, é culpada — ela é absolvida em nome da inocência coletiva.
E por esse motivo, nos deparamos com a peculiar tática de debate feminista chamada Manipulação-Kafka. Eu não inventei o termo; o crédito deve ser dado a Eric S. Raymond, cujo artigo original sobre o assunto está linkado abaixo2 do texto. Nem Eric tinha a intenção de que o termo fosse utilizado apenas para as feministas — qualquer membro de uma ideologia de vitimização pode efetivamente Kafka-Manipular seus adversários. O nome Manipulação-Kafka é uma referência à obra O Processo, de Franz Kafka, na qual é dito ao protagonista que ele é muito, muito culpado, embora seu crime nunca seja especificado; e, como ele logo descobre, a única “saída” é admitir sua culpa (embora ele não saiba de que), consentindo, assim, com sua própria destruição.
Nas próprias palavras de Eric, uma Manipulação-Kafka é:
uma afirmação infalsificável, sobre crime de pensamento, e que pretende
induzir culpa, de modo que o sujeito torne-se manipulável.
A coisa mais assustadora sobre esta tática é que a Kafka-Manipuladora declara que a sua mente está inacessível para você — o julgamento dela é uma rejeição da opinião que você tem sobre seus próprios pensamentos. Você acha que sabe o que pensa? Pense novamente, amigo!
Agora, vou reproduzir, do blog do Eric, seis modelos de Manipulação-Kafka que as feministas vão usar contra você. Aprenda-as. Conheça-as. Reconheça-as pelo que elas são: nada mais do que evasivas ad hominem. Apelar para uma tática, como uma Manipulação-Kafka, é suficiente para a sua refutação.
(Nota: nos exemplos a seguir, eu usei os termos “sexista” e “sexismo”, mas estes
podem ser substituídos por “misoginia”, “ódio à mulher”, “patriarcado”, etc.)
Modelo A de Manipulação-Kafka
Sua recusa em reconhecer que você é culpado de
sexismo confirma que você é culpado de sexismo.
Modelo C de Manipulação-Kafka
Mesmo que você não se sinta culpado de sexismo,
você é culpado porque você tem se beneficiado com o
comportamento sexista de outros no sistema.
Modelo P de Manipulação-Kafka
Mesmo que você não se sinta culpado de sexismo,
você é culpado porque você tem uma posição privilegiada
no sistema sexista.
Modelo S de Manipulação-Kafka
O ceticismo sobre qualquer relato anedótico de sexismo em particular,
ou qualquer tentativa de negar que o específico episódio
implica um problema sistêmico em que você é um dos culpados,
é em si suficiente para estabelecer a sua culpa.
Modelo L de Manipulação-Kafka
Sua insistência em aplicar um ceticismo racional para
avaliar as asserções de sexismo generalizado em si
demonstra que você é sexista.
Modelo D de Manipulação-Kafka
O ato de exigir uma definição de sexismo que pode ser
consequentemente verificada e falsificada, prova que
você é sexista.
É o último modelo, o Modelo D, o qual eu considero o mais intrigante. Isso implica — e minha experiência com feministas prova — que simplesmente perguntar como não ser sexista será tomado como evidência de um sexismo. A razão pela qual eu me concentrei tão fortemente em definições em minhas leituras anteriores é por causa da utilidade de fixar significados concretos para termos. Se nós temos uma definição concreta de sexismo, por exemplo, eu poderia verificar minha própria conduta contra esta definição, e, potencialmente, descobrir que eu não satisfaço nenhum dos critérios — ou seja, que eu não sou sexista. Mas isso não satisfaz a noção feminista de culpa coletiva. Parece-me uma reação em pânico por parte delas, assim, insistir que qualquer homem que tenta descobrir se ele é ou não sexista simplesmente o faria automaticamente sexista por tentar descobrir isso. Em outras palavras, ele seria um sexista por não querer ser um sexista. Poderia haver alguma indicação mais clara do que essa que mostre que feministas querem que homens e mulheres sejam duas classes conflitantes de pessoas?
O propósito da Manipulação-Kafka é não deixar absolutamente nenhum espaço para o indivíduo manipulado acreditar em sua própria inocência. A negação de que ele é opressor seria mais uma prova de que ele é opressor; a única outra opção seria admitir que ele é opressor, a qual também seria prova de que ele é opressor. (Observe o seguinte na Roda da Violência, concebido pelo Projeto de Intervenção da Violência Doméstica: “dizer que o abuso não aconteceu” é abusivo. Então, veja você, se você se declarar “culpado” ou “inocente” em um tribunal de justiça , ambos os fundamentos são a prova de sua culpa.) A opressão é alegada porque o indivíduo é membro de um grupo — mas não necessariamente aquele grupo com o qual ele se identifica. A identificação com o grupo primário é atribuída ao indivíduo pela operadora da Manipulação-Kafka. Citando Eric, mais uma vez,
Crimes Verdadeiros — transgressões reais contra indivíduos de
carne e osso — geralmente não são especificados. O objetivo da
Manipulação-Kafka é produzir um tipo de culpa flutuante
no sujeito, uma convicção de pecaminosidade que pode ser
manipulada pela operadora para fazer o sujeito dizer e fazer
coisas que são convenientes para os objetivos
pessoal, político ou religioso da operadora.
Que as transgressões reais não são especificadas é verdadeiro para todos os modelos com exceção do Modelo S, no qual uma transgressão determinada é especificada, mas qualquer dúvida a respeito do relato de coisas da suposta vítima é tomada como evidência de que o questionador é culpado, juntamente com o suposto agressor. Quão familiar tudo isso parece, não é?! Não é a experiência precisa de alguém que se defronta com feministas que discutem a prevalência de falsas acusações de estupro? Na mesma nota, vou encaminhá-lo para um comentário da feminista Amanda Marcotte, a qual ela rapidamente o apagou, mas não antes de Fidelbogen ter salvado uma cópia:
[Imagem com tradução do texto da imagem anterior (clique nela para ampliá-la):]
Vamos falar sobre Amanda Marcotte um pouco mais, vamos? De fato, em sua homenagem, eu gostaria de definir um sétimo modelo de Manipulação-Kafka, o Modelo J:
Modelo J de Manipulação-Kafka
Mesmo que sua inocência seja provada em um tribunal de justiça, isso
não só confirma a sua culpa; também confirma a culpa do
sistema (legal) que o declarou inocente.
A Exibição feita dos modelos A até o J foi devido a uma série de comentários que Amanda Marcotte fez em decorrência do caso Duke Lacrosse sobre falsas acusações de estupro. Incapaz de aceitar que os homens acusados poderiam ser inocentes (ei, por que mesmo houve os processos?), ela disse o seguinte:
Nesse meio tempo, eu estive meio que por acaso, enquanto estava na sala
de espera, escutando a CNN apregoando em alto e bom som, e, porra,
bom Deus!, aquele canal é pura maldade. Por um longo tempo eu tive
que escutar como os pobres queridos jogadores do Lacrosse
da [Universidade de] Duke estavam sendo perseguidos só porque
eles dominaram-na e foderam-na contra a vontade dela — estupro, não,
é claro, porque as acusações foram descartadas. Não é possível que
alguns meninos brancos abusem sexualmente de mais uma mulher negra
sem que as pessoas se revoltem contra isso? Tão injusto.
Deixando de lado o conteúdo de sua diatribe violenta, o estilo de escrita dela não parece com a de uma criança de doze anos de idade, talvez aquela que descobriu palavrões recentemente, e que acredita que usá-los tanto quanto possível seja “legal”? No espírito desse post, então, e dada a evidência diante de nós, eu, por meio disto, acredito que Amanda Marcotte tem, na verdade, 12 anos de idade. Qualquer argumento em contrário, venha de Amanda ou de qualquer outra pessoa, será tomado como mais uma prova de que ela tem 12 anos de idade.
Tudo bem, então. Já que ela não teve uma boa educação, vou recomendar um regime de disciplina que, em breve, deixará ela falando como uma boa moça! Sugiro, em primeiro lugar, que Amanda Marcotte tenha a boca vigorosamente lavada com sabão; em seguida, ela deverá receber severas palmadas no bumbum nu (sobre o colo de algum patriarca, é claro), e então, ela deverá ser enviada para cama, sem jantar, durante uma semana. Isso logo a colocará nos eixos! E já que eu me recuso a acreditar em qualquer prova em contrário da minha opinião de que ela tem 12 anos de idade, qualquer divergência com as minhas opiniões sobre este assunto deverá apenas reforçar o meu argumento de que ela é totalmente merecedora dessa punição. E agora, o que acha disso?
Adam
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Notas do Tradutor:
1: MRA: Men's Rights Advocate/Actvist, ou seja, Defensor/Ativista dos(por) Direitos dos Homens.
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KOSTAKIS, Adam.
Falsa Consciência e Manipulação-Kafka [
False Consciousness & Kafka-Trapping] [em linha]. Tradução e notas de Charlton Heslich Hauer. [s.l.]: Gynocentrism Theory, 2011. Disponível em: <
http://gynotheory.blogspot.com.br/2011/02/false-consciousness-kafka-trapping.html>. Acesso em 30 maio 2016.
Atualizada e revisada em 30 maio 2016 às 23:22h.