Estudo da FMUSP indica aumento de 36% em maus tratos infantis
Uma pesquisa do Hospital das Clínicas (HC) da Faculdade de Medicina da USP (FMUSP) constatou um aumento de 36% nos casos de maus tratos infantis no primeiro semestre de 2010, em relação ao mesmo período de 2009.
O levantamento foi feito pelo Serviço Social do Instituto da Criança do HC, com base nos 60 casos de violência infantil atendidos no pronto-socorro do hospital.
Antônio Carlos Alves Cardoso, coordenador da pesquisa e médico pediatra doInstituto da Criança, observa que os abusos representam 0,2% do total de crianças atendidas, o que, segundo ele, é um número significativo. O levantamento registrou até uma tentativa de suicídio de uma garota de 13 anos, vítima de agressão psicológica pelos pais.
Mães agridem mais que os pais
Em 60% dos casos registrados os pais [Nota: mãe e pai] foram os agressores, sendo a mãe a que mais cometeu o crime. De acordo com Cardoso, as mães alegam vários motivos para a agressão. “Elas passam mais tempo com os filhos. Muitas vezes acabam descontando nas crianças as frustrações e as brigas com o companheiro”, explica. Ele acrescenta que além da mãe e do pai, os agressores mais frequentes são outros membros da família, como tios, irmãos, padastros e madrastas.
O levantamento considera crianças e adolescentes, na faixa etária entre zero e 17 anos. A maior parte das vítimas de abusos físicos são crianças menores de três anos, enquanto a frequência maior de abusos sexuais está entre adolescentes e pré-adolescentes.
Com base na sua tese de doutorado (Maus tratos infantis estudos clínico, social e psicológico de um grupo de crianças internadas no Instituto da Criança do Hospital das Clínicas da FMUSP), defendida em 2002, Cardoso comenta que o dado referente aos abusos físicos não destoa de outras realidades. Sua tese alertou que 75% dos casos de agressão acontecem com crianças menores de dois anos. “Dessa porcentagem, metade é menor de um ano, fase na qual a criança ainda não consegue se expressar ou se defender”, observa o médico.
Sequelas
Ainda de acordo com a sua tese de doutorado, mais de 90% das crianças que sofrem agressão terão sequelas físicas ou psicológicas. As sequelas físicas podem ser óbitos, cegueiras parcial ou total, retardo mental, fraturas, queimaduras, entre outros. Dentre as sequelas psicológicas, as crianças podem apresentar desvios de conduta como agressividade, agitação, tendência suicida e síndrome do pânico. “Quanto mais nova for a criança agredida, maior a chance da sequela ser grave e de permanecer por mais tempo”, relata o médico.
Síndrome do bebê sacudido
Em uma modalidade de abuso chamada “síndrome do bebê chacoalhado”, Cardoso comenta que os meninos acabam sendo as maiores vítimas, pois eles têm mais cólicas e choram mais, o que faz as pessoas perderem a paciência. Asíndrome do bebê chacoalhado ou síndrome do bebê sacudido são lesões cerebrais resultantes de agitações vigorosas de um bebê ou de uma criança atingindo tórax, ombros ou extremidades.
Para identificar os casos de abuso, mudanças repentinas de comportamento das crianças são fortes indícios de que elas podem estar sofrendo algum trauma. Cardoso destaca que é fundamental ficar atento às alterações comportamentais, como dificuldades de se alimentar e dormir, ou introspecção, timidez e passividade exagerada.
O médico também lembra que, às vezes, as pessoas nem desconfiam dos verdadeiros agressores: “Pequenos detalhes que as crianças emitem podem ser fundamentais para evitar uma tragédia, pois estatísticas mostram que 5% das vítimas de maus tratos acabam morrendo na mão dos agressores”.
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Disponível em: http://www2.uol.com.br/vyaestelar/maus_tratos_infantis.htm. Acesso em 14 agosto 2013.