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sexta-feira, 27 de dezembro de 2013

A Domesticação do Macho Humano


Por Typhonblue (Alison Tieman)

V-Leaks 1.1:

Em V-Leaks 1.0: A Entrega Feminina como Dominância Emocional, eu expliquei pormenorizadamente como as mulheres usam a submissão como uma forma de desenvolver a dominância em seus relacionamentos. Duas defensoras do estilo de vida “esposa dedicada” pesaram para a elucidação desta dinâmica. Eu dirigirei as críticas delas neste blog, bem como expandirei alguns dos conceitos abordados no original.

O Cavalo de Tração

Quando o cavalo de tração pergunta: “por que eu estou arando o campo da fazendeira?” A fazendeira irá responder: “porque você é mais forte do que eu, é claro.”

A identidade do cavalo de tração torna-se então um solipsismo de auto-reforço com base no engodo lisonjeiro da fazendeira: “Eu aro o campo da fazendeira porque eu sou mais forte do que a fazendeira; eu sou mais forte do que a fazendeira porque eu aro o campo da fazendeira.”

Um cavalo selvagem não aceitaria nada disso. Um cavalo selvagem simplesmente teria sua identidade definida apenas por aquelas experiências que ele escolhe ter. Não uma autodefinição de cavalo que pode apenas ser expressa em termos da fazendeira que o domesticou.

O cavalo é mais forte, mais rápido, mais inteligente do que a fazendeira, mas sempre ele é julgado em relação às limitações da fazendeira e, dado que este julgamento é a identidade do cavalo domesticado, as limitações da fazendeira tornam-se as obrigações do cavalo. Quando a fazendeira é fraca, o cavalo deve mostrar-se mais forte e puxar seu arado para ela; quando a fazendeira é lenta, o cavalo deve mostrar-se ser mais rápido e levá-la nas costas; quando a fazendeira é estúpida, o cavalo deve mostrar-se mais inteligente e resolver o problema que ela tem.

Em cada situação, os pontos fortes do cavalo são usados para beneficiar a fazendeira em sua fraqueza. Ao atar a identidade positiva do cavalo em oposição à fraqueza dela, ela amarra os esforços dele para benefício dela também.

O cavalo de tração então vê os pensamentos de liberdade ou qualquer outro aspecto de sua natureza de cavalo selvagem, que não tenham relação com arar os campos, como uma ameaça à sua própria identidade. Definitivamente, porque o cavalo de tração acredita que arar campos seja sua identidade, ele já não vê a natureza transacional de seu relacionamento com a fazendeira. Ele começa a vê-la tomando conta dele como um benefício ao invés de um aspecto da exploração dele por ela. Na mente dele, ela toma conta dele porque ela o ama, não porque ele é um utilitário que requer manutenção.

Uma fazendeira não se preocupa em fazer-se consciente das necessidades emocionais do seu cavalo de tração. Se o fizesse, teria que encarar o fato de que a totalidade da vida do cavalo de tração é construída para o benefício da fazendeira e apenas dela. Independentemente da quantidade de graxa extra que a fazendeira traz para o cavalo dela enquanto ele impacientemente marca os seus cascos em seu estábulo.

Ela diz para si mesma: “Eu o alimento, limpo seu estábulo, dou-lhe acesso a sexo e crio seus filhotes para serem futuros cavalos de tração, o que mais ele pode querer?”

É claro que um animal selvagem não vai permitir que a fazendeira o limpe, alimente-o, controle a sua vida sexual (mesmo que esteja apenas decidindo qual o animal vai ter relações sexuais com ele) ou mesmo que toque nos seus filhotes, muito menos que os crie. Um cavalo selvagem só é treinado à força, para só então ser domado antes de ele mesmo ver o serviço da fazendeira como um benefício. Um cavalo selvagem prefere a sua independência à dependência da fazendeira; é por esta razão que os filhotes do cavalo de tração são criados pelas mãos da fazendeira. Assim eles também podem aprender a serem dependentes do serviço da fazendeira, em vez de serem criaturas selvagens independentes e donas de si.

Então, quando o cavalo de tração pergunta “por que eu estou puxando o arado da fazendeira” e a fazendeira responde “porque você é mais forte do que eu”, isto não é uma resposta. É um engodo lisonjeiro. A maior força do cavalo é o porquê da fazendeira tê-lo posto para arar o campo dela, mas o fato do cavalo ará-lo demonstra, na verdade, que é a fazendeira quem é mais forte.

O Cavalo de Tração Humano

Porque as mulheres controlam e sempre controlaram os fundamentos da sobrevivência humana por gerações e gerações, as crianças crescem associando aprovação feminina com provisão de suas necessidades básicas.

Esta associação persiste mesmo na idade adulta. À medida que um menino cresce e transforma-se num homem, a sua associação entre a aprovação feminina e suas necessidades básicas evoluem para associar a aprovação feminina com uma identidade social positiva. Desnecessário será dizer que essas entidades, que vemos como a fonte de nossas necessidades básicas, têm poder considerável sobre nós.

O respeito pelos homens agora é medido em termos do respeito pelas identidades que as mulheres impuseram a eles como cavalos de tração, em vez do respeito às necessidades dos próprios homens. De fato, por meio da criação de necessidades e vulnerabilidades pessoais de um homem em oposição à sua identidade socialmente aprovada como um cavalo de tração, cria-se a perfeita e resignada besta de carga. A maior ameaça a este sistema é a matriz emocional de um homem e a possibilidade de que ele venha imprimir sua matriz emocional em seus filhos.

Cada homem é a chave para a liberdade de seus filhos. Se um garoto associa a provisão de suas necessidades básicas de — alimento, abrigo, conforto — com a presença de seu pai, ele começa a desenvolver uma associação entre a aprovação masculina e uma identidade social positiva. Como conseqüência, à medida que ele for crescendo, isso irá permitir-lhe a capacidade de desenvolver uma positiva identidade masculina distinta da das mulheres, porque a sua identidade social não será provisória sobre a sua aprovação.

A razão pela qual as necessidades emocionais dos homens são confundidas com seus instintos básicos por comida, sexo e higiene, e pela qual a ignorância às suas reais necessidades emocionais estejam disfarçadas por trás de um “respeito a sua condição de homem”, devem-se ao fato de tudo isso permitir que as emoções das mulheres dominem a relação, tanto sua relação com o seu marido quanto sua relação com seus filhos.

E assim, como o cavalo de tração define-se como mais forte do que a fazendeira, todos os mecanismos de domesticação do homem estão escondidos atrás de sua virilidade. Porque admitir para si mesmo que é controlado pela fazendeira, seria admitir para si mesmo que é mais fraco do que a fazendeira.

A domesticação tornou-se sua identidade.

A Cenoura

Uma mulher postou o seguinte comentário no artigo A Entrega Feminina como Dominância Emocional:

Eu tenho que dizer que se uma mulher está alegando ser “dedicada” ou, como eu a chamaria, submissa, mas, no entanto, está manipulando seu marido, ela não é nada mais do que uma hipócrita fazendo com que o cristianismo pareça algo ruim, e ela não tem a menor idéia sobre a verdadeira submissão bíblica.

Primeiro de tudo, a dinâmica da esposa dedicada pode desenrolar-se na exclusão das necessidades emocionais do homem no relacionamento sem que a esposa dedicada esteja realmente ciente do que ela está fazendo. Essa é uma das razões pela qual essa dinâmica é tão perigosa.

Essa mulher que comentou vai mostrar este potencial perigo em ação na própria descrição dela de relacionamento em si:

“Eu ajudo meus filhos em casa com o ensino, limpo a nossa casa, cozinho as refeições da minha família, e, felizmente, tenho relações sexuais com meu marido sempre que ele quer. O verdadeiro sentido cristão de entrega/ submissão é o de colocar as necessidades do/da marido/família à frente de si própria. Lamento ouvir aquelas situações onde as mulheres exploram a bondade dos homens, mas não vamos chamar isso de algo que isso não é — isso não é entrega, submissão, ou cristão.”

Em essência, essa esposa dedicada é a motivação para a “cenoura” oferecida ao homem para justificar o estilo de vida da esposa submissa.

Antes de entrar em discussão nesta parte da resposta, eu quero ressaltar que eu só posso inferir a partir do que foi escrito. É difícil descrever a totalidade de um relacionamento em um curto parágrafo e, sem dúvida, informações se perdem na tradução. Dito isso, a partir desta descrição, eu não fiquei com a impressão de que esta esposa dedicada, de modo algum, tenha alguma idéia de que seu marido tenha uma paisagem emocional humana.

Primeiro de tudo, ela definiu todas as necessidades de seu marido exatamente da mesma forma que uma fazendeira definiria seu cavalo de tração.

Você pode substituir o que ela disse por: Eu o alimento, limpo seu estábulo, dou-lhe acesso a sexo e crio seus filhotes para serem futuros cavalos de tração. Não perderia nada em significado. O único aspecto que aborda uma necessidade emocional humana é o que ela diz sobre o sexo. Infelizmente, ela não reconhece que tais necessidades emocionais estão sendo atendidas em suas trocas sexuais com o marido. Quando ela diz “eu felizmente tenho relações sexuais com meu marido sempre que ele quer”, ela acredita que dando acesso ao sexo ao marido quando ele quer é um benefício emocional para ele.
Acesso ao sexo é algo que você dá a um animal da fazenda. Já o desejo é algo que você dá a um ser humano.

O desejo é o presente, não o sexo. Assim, quando o marido a deseja, ele está dando o presente a ela. Na situação que ela descreve, é seu marido que está, na verdade, cuidando das necessidades emocionais dela como ser humano. Ou seja, da necessidade de se sentir desejada.

Houve uma razão pela qual eu explicitamente me referi à intrincada teia de vulnerabilidades, inseguranças e medos, quando descrevi as necessidades dos homens. Estas vulnerabilidades são a matriz emocional do homem. Em um relacionamento justo, é dado tanto espaço à matriz emocional do homem quanto ao da mulher.

Em uma relação desigual, a matriz emocional do homem é mal-interpretada como sendo idêntica às suas necessidades básicas. Em um relacionamento injusto, uma mulher fornece a um homem exatamente as mesmas coisas que uma fazendeira fornece a um animal de bom desempenho. Em uma relação injusta, uma mulher erra ao pensar que quando um homem satisfaz as necessidades dela seria ela que na verdade estaria satisfazendo as dele.

Esta cenoura, assim como todas as cenouras, consiste mais em beneficiar a pessoa que a está oferecendo do que àquela que a recebe.

O Chicote

Para entender como funciona o chicote no estilo de vida esposa dedicada, imagine que ele é, em vez disso, uma argola no nariz de um touro.

Quando a fazendeira puxa a argola do touro, o touro sente dor — ela puxa a argola dele, seja aberta, utilizando linguagem de constrangimento do tipo “você não é forte o bastante”, ou veladamente, apresentando uma fraqueza em si mesma onde ele deve agir para atendê-la, do contrário ele estaria correndo o risco de perder sua identidade social positiva como um ser que é mais forte do que ela.

Salientar a existência da argola também seria doloroso porque, sendo um ponto óbvio de controle e fraqueza, isso desafiaria a identidade dele como o mais poderoso do que a fazendeira. Esta dor funciona como um mecanismo de controle para manter a argola no lugar.

Mas quando a fazendeira diz “não chame a atenção da existência da argola para o touro, isso o afrontaria.” O que ela quer dizer é “não chame a atenção da argola para o touro, ele pode ser capaz de retirá-la se ele ficar ciente do que se passa.” E ela, então, esconde esta verdade por trás de uma compaixão presumida pelo “frágil ego masculino” dele.

Uma comentarista on-line, uma tal de Lilith, teve o seguinte a dizer em defesa do estilo de vida esposa dedicada. A primeira mulher que comentou usou a cenoura, já Lilith usa o chicote.

“E o homem nesta história? Você pinta-o como uma vítima manipulada infeliz que está comicamente falhando em suas tentativas de viver de acordo com o ideal de macho dominante que não é muito bem definido e também é geralmente alvo de ridicularização e descontentamento público.”

Esta é uma referência ao artigo anterior no qual eu expus uma história de um homem cuja esposa dedicada ficou calada enquanto ele pegava um caminho errado numa auto-estrada, permitindo que ele dirigisse por metade de um dia antes de descobrir seu erro.

A esposa dedicada em questão pode facilmente dizer para si mesma “Eu não quero afrontar seu papel de chefe de família apontando seu erro.” E sentir que a sua decisão justifica inteiramente pelos ideais do estilo de vida esposa dedicada. Afinal de contas, ela estaria ignorando a vulnerabilidade dele a fim de respeitar o papel dele de cavalo de tração ou de “chefe de família”, se você preferir.

O que nos leva a uma ironia. Lilith usa a existência da argola no nariz para justificar o motivo pelo qual não se deve chamar a atenção para a existência de argolas no nariz.

Assim como a esposa dedicada justificou seu abuso, dizendo que ela estava respeitando a posição dominante do marido, Lilith está, em essência, dizendo: “Não aponte para os pobres coitados, isso só vai insultar sua masculinidade.”

De minha parte, vou continuar apontar as armadilhas colocadas para os homens nestas situações para que eles possam tomar suas próprias decisões sobre o que fazer. Depois de ter apontado o que vejo, convido o homem a deduzir.

Por último, uma vez que eu não acredito que as identidades dos homens enquanto homens precisem ser baseadas em alguma coisa a ver com seus relacionamentos com as mulheres — seja por eles beneficiarem as mulheres ou por serem mais forte que elas — eu não acredito que apontar os perigos destas dinâmicas para os homens implicasse, de alguma forma, na redução de sua masculinidade.

Ao contrário, isso os capacitaria para começar a reivindicar a definição de masculinidade para si mesmos. Que é, provavelmente, a verdadeira questão aqui. Onde está o amor?

Se você pode falar sobre as necessidades emocionais do seu parceiro nos mesmos termos que uma fazendeira usaria para falar sobre como cuidar de um animal de tração, então você não precisa nem ver o seu parceiro como um ser humano.

Ademais, isso explica a sensação de desânimo que muitos homens têm (assinalada por WF Price em seu post “O que há de errado em querer amor?”) por eles não serem amados.

Não. Se sua parceira fala com você nos mesmos termos que uma fazendeira falaria com um animal de tração, o que ela sente por você não é amor. Na verdade ela não o reconhece como ser humano absolutamente. O amor vem de vulnerabilidades comuns; ele deriva do ser forte para o seu parceiro, que exige o reconhecimento das necessidades emocionais dele em termos humanos — não em termos animais — dando a possibilidade a ele para conduzir suas decisões.

É precisamente por esta razão que as mulheres no modelo dedicada, tanto as dos relacionamentos seculares quanto as dos relacionamentos cristãos, não amam.

Não apenas toda a sua paisagem emocional girará em torno de uma mulher, como não importa o quanto você atenderá as necessidades dela em troca da submissão dela, ela nunca vai te amar. Ela pode respeitar a sua função, mas ela não irá respeitá-lo.

Este é um sistema especialmente perigoso para os homens, dado que representa apenas a benevolência e a tolerância de suas parceiras — o amor de suas parceiras — que os impede de “serem enviados para a fábrica de cola” [N. do T.: Fábrica de cola é um lugar onde os cavalos velhos são abatidos para que seus ossos e cartilagens sejam utilizados na fabricação de cola].

E um ser humano não pode amar um cavalo de tração.

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Typhonblue. V-leaks 1.1: Domestication of the Human Male. Tradução de Charlton Heslich Hauer. [s.1.]: GendErratic, 2012. Disponível em: <http://www.genderratic.com/p/1354/v-leaks-1-1-domestication-of-the-human-male/>. Acesso em 27 dezembro 2013.